sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Comissão acompanhará caso da Chácara Baronesa

Foto:Natália Fernandjes













Maria de Fátima lamenta deixar local antes de ver os apartamentos.
Uma Comissão de Assuntos Relevantes pode ser criada na Câmara de Santo André para acompanhar, propor soluções e intensificar as discussões referente às Zeias (Zonas Especiais de Interesse Social) da cidade. O projeto de resolução foi protocolado no último mês pelo vereador Thiago Nogueira (PT) e, caso criada, terá como ênfase o Haras São Bernardo, também conhecido como Chácara Baronesa.
Localizado em Santo André, na divisa com São Bernardo, o espaço conta atualmente com 337 famílias, totalizando mais de mil moradores. "A criação de uma comissão fará com que o tema seja mais debatido. Temos de aproveitar os recursos federais, como o do programa Minha Casa, Minha Vida para promovermos a retirada das famílias e, finalmente, transformar a área em um grande parque", destaca o parlamentar.
No passado, a chácara pertenceu ao barão Von Leitter e à baronesa Maria Branca Von Leitter, até que em 1976 o terreno foi vendido ao Inocoop (Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais de São Paulo), que tinha planos para construir apartamentos populares.
O projeto não vingou e se tornou uma área pública. Em 1987 o local foi declarado Área de Proteção Ambiental e, mais tarde, tombada como histórico pelo Condephaat. Como não havia fiscalizações, aos poucos as famílias foram se instalando no espaço, transformado em 2001 em Parque Estadual Chácara Baronesa por meio de um projeto do então deputado Newton Brandão.
O texto de Brandão determinava que as famílias lá instaladas fossem removidas. Entretanto, como na época as áreas livres para construção de grandes condomínios eram escassas, foi acordado que 10% da área fosse desmembrada do parque e cedida para a construção das moradias.
Entretanto, mesmo após a autorização do Condephaat e a homologação pelo então secretário de Estado da Cultura, João Sayad, em 2007, a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), responsável pela construção de um conjunto habitacional no local, ainda não deu início às obras das unidades habitacionais. Por meio de sua assessoria de imprensa, a CDHU afirmou que uma reunião será agendada para os próximos dias com técnicos da prefeitura de Santo André para discutirem uma possível parceria na gestão do local. Até que esta reunião ocorra, a Companhia não se manifestará sobre a construção dos imóveis.
A prefeitura de Santo André ainda não firmou um convênio com o governo estadual para gerenciar a área de preservação. Até o momento foi assinado apenas um protocolo de intenções entre os governos estadual e municipal. Somente após a assinatura do convênio de gestão compartilhada, que terá cláusulas sobre a ação do Estado no que se refere aos moradores locais, a prefeitura passará a responder junto ao governo pelo gerenciamento do espaço.
Coordenadora deixará comissão sem ver prédios construídos
Há 12 anos como coordenadora geral da Associação Comunitária Haras São Bernardo, Maria de Fátima Soares Cruz está planejando sua mudança da Chácara Baronesa. Moradora do local há 15 anos e conhecida por defender os residentes, ela deixará o local antes de ver os prédios da CDHU serem construídos e entregues aos vizinhos.
"Estou apenas esperando aparecer algum interessado em comprar minha casa. Como trabalhei por muito tempo, tinha um dinheiro guardado e consegui comprar uma casa com a minha filha", conta. Mesmo depois de mais de uma década de luta sem ver praticamente nenhum resultado, Maria de Fátima lamenta sua saída do núcleo antes de ver o conjunto habitacional prometido pelo Estado sair do papel.
"Ainda tenho esperança que um dia esses prédios sejam construídos. A vontade de todos os moradores é continuar morando por aqui, mas da maneira com que está não da mais", desabafa. A coordenadora da Associação conta que é constante a presença de ratos e até mesmo cobras entre as casas, além da queda de galhos em cima dos barracos, que na maioria das vezes provocam grandes estragos. Uma das principais reclamações de Maria de Fátima é a falta de informação por parte do governo estadual e municipal. "Nunca aparece ninguém aqui para realizar uma reunião sobre a situação da área. Só em época de campanha eleitoral os políticos aparecem, mas sempre atrás de votos", lamenta Maria, que viu na Chácara Baronesa a única opção de moradia quando ficou desempregada. "Temos consciência que esta área não pertence a nós, que estamos aqui porque invadimos o terreno. Por este motivo é que sempre conversamos com os moradores para não permitir que novas casas sejam construídas".
José Inácio Oliveira, que também mora no local há 15 anos, espera ansioso a chegada dos prédios da CDHU, mas teme que a qualidade de vida não seja a esperada. "Vai ser muito bom porque não vamos mais morar nos barracos, mas se a pessoa não tiver uma boa renda, não vai conseguir manter as contas que uma casa gera, como água e luz", lembra. Aos 52 anos, Oliveira sobrevive de bicos como pedreiro e de reciclagem, o que lhe proporciona um salário mensal entre R$ 200 e R$ 300.
Aline Bosio - Reporter Diário

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