A antiga Chácara dos Crespi, um imóvel rural com área de cerca de 350 mil m², localizada no Município de Santo André, divisa com São Bernardo, tem como marca de seu limite, o córrego Taioca. A propriedade, também conhecida por Haras São Bernardo, foi implantada na década de 40 do século passado e era constituída de casa principal com piscina, pastagens fechadas e cercadas por árvores, havendo três grupos distintos de cocheiras e vacarias, com baias para cavalos de corrida, um depósito e quarto para empregados e diversos caminhos ladeados por ciprestes. Os animais eram tratados com aveia importada da Inglaterra. Com o falecimento do Conde Crespi a Condessa Marina Regoli Crespi vendeu a propriedade para o barão belga Von Leittner e a Baronesa Maria Branca Von Leittner, passando a ser conhecida desde então, como a Chácara da Baronesa. O Haras, como foi planejado, visava de fato a criação de cavalos de corridas, por isto ele possuía dezessete pastos, entre fileiras de árvores, a casa do administrador e a casa da baronesa , com um grande portal de entrada, tinha cerca viva de hibiscos vermelhos, sempre bem aparados e só perdia em beleza para o gramado muito verde dos pastos. A Baronesa e seu marido, belgas de nascimento, vìviam três meses por ano na França como turistas e quando estavam no Brasil passavam boa parte do tempo dentro do Haras São Bernardo. Tudo era diferente. A agitação era incrível, traziam tudo da Europa, desde as ferramentas, como uma simples lima até as sementes do capim próprio para pastagem dos cavalos. O Haras empregava 72 duas pessoas, que roçavam, carpiam os pastos, varriam as ruelas e a estradinha principal, cuidavam de cada palmo da chácara. Eram 32 éguas criadeiras, que em certa época chegou a 74 cabeças, entre éguas, potros e garanhões. No local tinha também 15 vacas cujo leite servia de alimento para os patrões e empregados. Os cavalos eram tratados com leite desnatado e aveia. O capim depois de seco, servia de cama para as éguas criadeiras. As cocheiras em número de três, possuíam luz elétrica e água encanada. Os potrinhos nasciam e contavam com maternidade, enfermaria e farmácia. Com um mês e meio de nascidos eram levados para a cocheira, onde permaneciam até completarem um ano de idade. A próxima morada era a cocheira instalada ao lado da pista de adestramento e dai, às competições do Jóquei Clube. Na metade dos anos de 1970, o Haras começou a deixar de produzir tão bons animais quanto nos anos anteriores. Os donos preocupados trouxeram um veterinário da França e que após exames feitos constatou que a poluição do ar da região começava a prejudicar a criação desses animais de raça. Cirurgias feitas não adiantavam. Os animais não se desenvolviam como no passado. Com a industrialização acelerada do ABC e sua conseqüente poluição o Haras São Bernardo e a Chácara da Baronesa foi entrando em decadência até chegar ao fim, pelo menos para o que se destinava. A vizinhança não veria mais os cavalos brilhantes de tão limpos, esguios e campeões, formados no Grande ABC para brilhar nos hipódromos brasileiros e internacionais. Dava para ver, do interior da propriedade, as chaminés do Pólo Petroquímico de Capuava, expelindo fogo e poluentes. Em 1976, o Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais de São Paulo –INOCOOP, adquiriu os 350 mil m². O INOCOOP assumiu o destino da propriedade e pretendia construir no local três mil unidades habitacionais, através do empréstimo junto ao Banco Nacional da Habitação-BNH. Em 1978 quando o projeto de construção das moradias estava em sua fase final, a Prefeitura de Santo André declarou o local como área de utilidade pública. Passaram-se cinco anos, prazo este de intervenção da administração e como nada havia sido feito o terreno foi devolvido ao INOCOOP. Em 1983 um novo projeto foi elaborado e apresentado ao BNH, que alegou falta de recursos financeiros para financiar as construções. Era visível o abandono e a degradação da área, que permitia o trânsito livre de pessoas, pois já não havia cercas ou muros no seu entorno. Sentindo o descaso por parte dos órgãos públicos e a possibilidade de uma ocupação desordenada daquele rico patrimônio histórico, cultural e ambiental, os moradores de Vila Baeta Neves em São Bernardo, vizinhos da Chácara da Baronesa, criam em 1984, o Movimento em Defesa da “Chácara Baronesa Crespi/Haras São Bernardo” de caráter popular, objetivando a preservação e transformação da área em Parque Ecológico, Cultural e de Lazer. Em 24 de março de 1986, através do Decreto Estadual nº 24.932, a área é tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico-CONDEPHAAT que a transforma em Patrimônio Histórico e de Proteção Ambiental. Em Julho de 1987, o movimento conquistou a Lei Estadual 5.745,que reconheceu o local como Área de Proteção Ambiental ( APA ) e nesse mesmo período, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico ( Condephaat), abriu o processo de tombamento do antigo Haras, após ter sua cobertura vegetal tombada, em caráter ambiental e estético afetivo, que acabou se consolidando em Junho de 1989. O INOCOOP propôs ação indenizatória junto ao governo do Estado e em 1989 por ser um instituto de gerenciamento de habitação, sem fins lucrativos, ganhou a causa. Mas o Estado não pagou parte do valor estipulado pelo Ministério Público, e com isso até agora, a situação continua pendente. O Haras São Bernardo, com seu vasto gramado, espécies nativas da mata atlântica, eucaliptos, ciprestes, coqueiros, palmeiras e construções antigas, com um terreno de aproximadamente 350 mil m², e por estar inserido no meio urbano é considerado um "pulmão verde". No Plano Diretor do município de Santo André, Lei nº8.696/2004 o Haras São Bernardo com todo o seu perímetro de 340.990 metros quadrados está descrito como ZEIA A (Zona Especial de Interesse Ambiental), onde a principal intenção é de preservar e recuperar suas características ambientais.
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